Assexualidade: conceito, ciência e vivência – Você sabe o que fazer?

A assexualidade é um conceito bastante amplo e que vem se popularizando nos últimos anos, mas que ainda causa uma série de dúvidas que podem prejudicar a saúde física e emocional.

Inclusive, há ainda aqueles que não compreendem isso e podem levar uma vida problemática e difícil, bem como dificultar a vida de terceiros, que fazem parte dessa comunidade.

Por isso, aqui vamos falar sobre a trajetória desse conceito, entender o que realmente é compreender como as necessidades emocionais podem ser abaladas em um cenário de baixa informação. Além de buscar maneiras de alcançar a liberdade pessoal e intima, felicidade e a satisfação em si mesmo.

Assexualidade

Um passo curto no passado

A assexualidade é destacada como uma forma de identificar a si mesmo, considerando aqueles que são sexuais. Mas, a maioria dos estudos e das trajetórias que vemos hoje surgiu no início dos anos 90. Ainda que a construção de tudo isso seja mais antiga.

Por exemplo, observando a Dinastia Qing (1644-1949), havia uma organização formada por mulheres que tinham questões sexuais. Como resultado, se uniram para evitar o casamento.

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Naquela dinastia, elas cuidavam umas das outras realizando cerimonias, comemorando suas conquistas e se abstendo daquilo que não queriam fazer.

Vale destacar que, ainda hoje, existem pessoas que ligam todas as relações românticas a uma rotina sexual. Antigamente, quando havia ainda mais questões de continuar o “nome familiar”, esse ‘fardo’ era ainda mais pesado.

Além disso, nos movimentos feministas, principalmente os radicais, a assexualidade era ainda mais comum, ainda que não tivesse um nome para tal na época.

Um exemplo disso foi destacado em um artigo publicado em 1907 na Women’s Suffrafe. Nela, os tipos de homens e mulheres incluem aqueles “pouco sexuais”.

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Neste texto específico, havia uma citação importante para compreendermos a história da assexualidade: “a mulher assexual deseja banir toda a beleza sexual que ela não sente e entende da vida”.

Junto a essa questão focada em apresentar a ideia de que a mulher queria “banir sua feminilidade”. Logo, muitos autores da época culpavam o feminismo e outros movimentos pelo declínio da humanidade. Em resumo, afirmavam que essa negativa ao sexo promoveria o fim da humanidade, sejam homens ou mulheres (Livro: Feminism, Correa Moylan Walsh).

Walsh fala sobre esses indivíduos se espalharem entre aqueles com instintos normais, reprimindo-os. Logo, viria o declínio da civilização. Algo que sabemos hoje que não vai acontecer.  Afinal, se por um lado existem os assexuais, por outro existem os sexuais.

Importante

Se avaliarmos todas as questões envolvendo a continuidade dos seres humanos atualmente, a assexualidade não representa um risco. Principalmente considerando que os casais sexuais reduziram o número de filhos ao longo das décadas.

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Afinal, o que é a assexualidade?

A assexualidade faz parte de um espectro sexual no qual há a falta da atração sexual. Isso sem relação nenhuma a gênero ou sexo biológico. Essa falta de atração pode ser parcial, condicional ou total.

Dessa forma, esses indivíduos possuem uma relação restrita com o sexo. Observamos, por exemplo, que a maior parte dos assexuais mantém pouquíssimas relações sexuais ao longo da vida e, em alguns casos, não há qualquer interesse ao longo dos anos.

Neste espectro existem outros nomes, como a demissexualidade, que se referem ao assexual. No caso da demissexualidade, por exemplo, vemos pessoas que sentem atração sexual apenas quando há um vínculo afetivo. Ou seja, é aquele indivíduo que conhece, conversa e começa a gostar daquele indivíduo. Apenas quando isso acontece, o desejo sexual aparece.

Então, tenha em mente que, dentro da assexualidade, existem alguns termos variantes. Por isso, esse conceito é dividido em parcial, total ou condicional:

  • Total: quando não há qualquer interesse sexual;
  • Parcial: quando há um interesse sexual específico;
  • Condicional: quando o desejo sexual é ligado a uma condição específica, como inteligência.

Assim, a assexualidade se refere a esse desejo/vontade sexual e não as necessidades emocionais. Por isso, esse indivíduo ainda pode ter um relacionamento afetivo ou romântico, mas sem o ato sexual.

Aqui existem aqueles que, em um relacionamento romântico, não tem qualquer interesse sexual e aqueles que, a partir do relacionamento afetivo, passam a ter o desejo sexual.

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Existe uma grande variedade.

Psicologicamente falando, com ou sem o desejo sexual, a assexualidade traz à tona que os relacionamentos envolvem uma conexão com proximidade, conexão, humor, confiança, diversão, etc.

Principais espectros de assexualidade

Arromântico

Aqui se enquadram as pessoas que possuem pouca ou nenhuma atração romântica. Assim, é comum que esses não tenham compromissos ou intimidades. Não vendo qualquer problema nisso.

Há situações em que os arromânticos desenvolver parcerias platônicas, com algum nível de comprometimento, mas sem qualquer envolvimento sexual/romântico. Inclusive, esses parceiros podem viver juntos e até ter filhos.

Demissexual

São indivíduos que tem uma tração romântica ou sexual só depois de se conectar emocionalmente com aquele sujeito.

Aqui o sujeito pode se sentir atraído por um gênero ou outro, não tendo qualquer tipo de distinção neste aspecto.

Grayssexual

Também chamado de gray-assexual ou grayarromântico, essas pessoas tem uma experiência/atração sexual muito rara. Em alguns casos, a intensidade é superbaixa.

Justamente por isso, as relações sexuais e/ou românticas são bastante específicas. Com isso, podem nem chegar a praticar o ato sexual pelo desejo ser raro ou de baixa intensidade.

Além desses, há outros tipos que vem dando forma ao tema. Como aqueles que só se sentem atraídos quando não há nenhum tipo de vínculo afetivo (frayssexual) e aqueles que não se sentem atraídos por outras pessoas, mas possuem o desejo de ter uma vida ativa sexualmente (cupiossexual).

Conceito prático

A assexualidade é uma orientação sexual. Logo, se assemelha a bissexualidade ou heterossexualidade.

Com isso, não é algo que o indivíduo escolhe, mas que sente em seu íntimo.

Cabe destacar que aqueles que não sentem qualquer desejo sexual, ou em situações condicionais/parciais, não tem qualquer desequilíbrio químico, desordem ou medo da intimidade.

Assexualidade

Porém, há aqueles que não são assexuais, ou o são, podem ter traumas envolvendo a questão sexual. Bastante comum em casos de agressões e/ou violências.

Assexualidade na Ciência

A assexualidade é amplamente estudada, principalmente nos aspectos mentais e emocionais. Oficialmente, os estudos que trouxeram e impactaram isso tudo aconteceu em 1869, quando Kertbeny trouxe os significados de homossexualidade e heterossexualidade para o mundo ocidental.

Em suma, esses conceitos trouxeram à tona a necessidade de estudar e falar mais sobre outros espectros. Dentre eles, a assexualidade. Tudo isso dentro da “sexologia”.

Uma curiosidade é que Kertbeny também dividia o seres humanos em “monossexuais”, que eram aqueles que não tinham relações sexuais com outras pessoas, mas se masturbavam.

Uma série de outros estudos foram desenvolvidos desde então.

Em 1897, Emma Trosse usou o termo assexualidade cunhando-o para definir aqueles não sentiam atração ou desejos sexuais. O termo ainda passou por alguns usos problemáticos em 1924, quando o psiquiatra Kraft-Ebing o usou para falar de degeneração mental e distúrbio cerebral.

Chegando a 1940, o lançamento de uma obra de Clifford Allen “traduz” o termo como uma “preferência anormal inibida”. Nove anos depois, ele lança uma nova versão o livro o destacando-o como um “tipo de travestismo”. Muito se seguiu a isso.

Um destaque importante ocorreu em 1994 com o psicólogo Anthony F.Bogaert, onde foi identificado que 1 em cada 100 indivíduos se identificavam com o conceito. Se quiser saber mais sobre esses pontos, vale a pena conferir o RecortCanal.

Com isso tudo, o que temos hoje?

Ainda que não seja um tema “velho”, considerando as principais pesquisas sobre assexualidade, grandes mudanças

Na visão psicanalítica de Freud, por exemplo, a sexualidade é um tema amplo, bem distante de envolver única ou exclusivamente, o ato sexual/genital.

Portanto, é caracterizada como uma orientação específica (Universidade Brock) não representando qualquer distúrbio, problema fisiológico ou algo do gênero. Em resumo, são pessoas que possuem uma variante no desejo sexual. Atualmente, esses indivíduos fazem parte da comunidade LBGTQIA+, representados por uma bandeirinha com as cores preta, cinza, branca e roxa.

Vivência assexual – O impacto cotidiano

Entre as principais dificuldades do público assexual está o preconceito, que precisa ser entendido de forma mais ampla. Por um lado, há aqueles que “não aceitam” ou acreditam que isso não existe. Por outro, há pessoas que pensam que todo assexual passou por algum trauma. O que está bem distante da verdade.

Não à toa, há um impacto cotidiano que afeta as relações e a psique desses indivíduos, que nem sempre encontram um “local seguro”, onde se sentem compreendidos.

Assim, precisamos observar a sociedade e alguns aspectos quase esperados dos seres humanos. Na juventude, por exemplo, é quase natural ouvir que fulano foi para uma festa e ficou com alguém que nunca viu na vida, “coisa de minuto”.

Para alguns isso é completamente natural e faz parte da descoberta da própria sexualidade, de ser parte de um grupo. Mas para outros, esse comportamento, não tem qualquer sentido e nenhuma emoção envolvida.

Dessa forma, considere encontrar um indivíduo jovem ou adulto que fala sobre não sentir desejos por outros, independente do gênero. A verdade é que a maioria das pessoas vão perguntar se existe algum problema com ele. Seja por não saber “o que gosta/quer”, se existem disfunções sexuais ou mesmo se aquele sujeito passou por algum trauma.

Mas…

Provavelmente, poucos irão questionar se você consegue se relacionar com alguém depois de estabelecer um vínculo ou quais são suas prioridades.

Logo, a assexualidade entra em um parâmetro que nem sempre é fácil de explicar, não que você precise fazer isso. O problema é que, com essas falsas ideias, o ambiente pode se tornar hostil ou mesmo solitário.

Não é incomum que esses jovens/adultos parem de sair com os amigos e até familiares (que sempre questionam sobre relacionamentos), comecem a mentir para evitar o assunto ou tentem estabelecer algum nível de relação que não os coloque como diferentes dos outros.

Vale destacar aqui que os seres humanos, naturalmente, vivem em sociedade e querem ser parte de um grupo. Algo que influencia nas nossas relações.

Mas, é importante que você se sinta bem com suas próprias particularidades, sem sentir que deve fazer algo por pressão dos demais. Neste cenário, as redes sociais e as comunidades têm auxiliado em criar esse novo grupo, falando de forma aberta sobre o tema e desmistificando alguns preceitos.

Existem relações entre assexualidade e traumas sexuais?

Não. Essa é a resposta mais clara e direta sobre o assunto.

Essa confusão se deve ao fato de que, muitas pessoas que sofrem um trauma sexual, desenvolve uma apatia, medo, disfunções ou simplesmente a falta de desejo. Por exemplo, alguns passam a sentir repulsa apenas por imaginar se relacionar sexualmente.

Nesses casos, a assexualidade não vem diretamente de uma “falta” de atração ou de circunstancial, mas de um trauma que deve ser tratado corretamente.

Assim, se você passou por uma situação que, para você, foi traumática, a terapia é o melhor lugar para começar a entender esse quadro, sintomas e evitar que essas emoções aflorem de forma errada e prejudicial para o seu corpo e mente.

Orientação sexual é necessário ajuda?

Apenas se você sentir necessidade e que de alguma forma a sua saúde mental precisa receber algum tipo de cuidado ou se sinta em crise. A conexão emocional que você cria com uma pessoa está dentro do guarda chuva de quem você é e apesar de você poder receber orientações de como lidar com a pressão social, bem como com os benefícios de lidar com o que sente, apenas você pode definir o que você precisa.

Você sabe o que fazer?

Diante de tudo o que falamos até aqui, a dúvida que pode surgir é: o que posso fazer para me sentir melhor?

Primeiramente, identifique se existe um quadro de assexualidade. Geralmente, isso começa quando você se sente pressionado pelos demais a ter uma relação (e não quer), quando não sente esses desejos ou eles aparecem muito pontualmente, quando se sentiu mal após tentar se relacionar sexualmente, etc.

Além disso, se você tem dúvidas sobre a própria sexualidade, passou por situações que lhe causaram qualquer tipo de dano ou simplesmente para se conhecer mais, comece a terapia.

O processo terapêutico é essencial para todos os seres humanos, indo muito além da sexualidade. Já que promove o autoconhecimento, autoaceitação, amplia a satisfação e elimina mitos. Tudo isso focando em você, para lhe ajudar em todos os seus processos pessoais e profissionais/sociais.

Lembre-se que a assexualidade não significa não se relacionar, pode ou não envolver abstinência/celibato, é algo individual e que deve ser respeitado.

Então, comece a psicoterapia onde estiver. Aqui na Fepo você faz as sessões onde se sentir mais confortável e seguro.

Felipe Laccelva

Felipe Laccelva

Psicólogo formado há mais de dez anos, fundador e CEO da Fepo. Fascinado pela Abordagem Centrada na Pessoa, que tem a empatia como eixo central para transformar o ser humano. Sempre buscou levar a psicologia para mais pessoas e dessa forma criar um mundo mais saudável e acolhedor.

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